domingo, dezembro 03, 2006

Recursos Hídricos

Os recursos hídricos como fator econômico
Gazeta Mercantil (MG)
Pode parecer mais uma previsão, tais como aquelas feitas por inúmeros pensadores sobre o globo terrestre e que às vezes acontecem realmente, em um tempo recorde ou em longo prazo. Não se trata neste tema de apenas um olhar futurista, mas algumas de reflexões e idéias quanto a uma realidade bem presente: ´A água, em suas diversas manifestações na natureza, consiste em um fator imprescindível para diversas fontes de capital e serviços´.A água não é um produto que somente usamos nas tarefas domésticas, na indústria ou serviços. Ela é um dos principais fatores, porque não dizer o maior, daqueles que são capazes de restaurar a natureza e legar à humanidade as condições de vida e desenvolvimento. A presença e a capacidade restauradora da água são as causas de melhoria e transformação de nossos melhores lugares no planeta em que vivemos.São em nossos melhores ambientes que acontece a maior parte dos fatos que concorrem para um bom desempenho econômico e social de um povo, pelo que se torna muito importante avaliar as diversas formas de relacionamento entre o indivíduo e seu espaço vital. Uma simples avaliação pode ser feita, em termos comparativos, antes, durante e depois de quaisquer mudanças sofridas pelo espaço físico e ambiental, em decorrência do zelo ou do mal trato atribuído aos mesmos pelo indivíduo. Após as alteração desses lugares muda-se também a forma de relacionamento dos usuários com o referido espaço. Esta forma de pensar, agir e atuar sobre o meio ambiente é consagrada pelo sentimento de ´Pertença´ _´coisa que, por disposição de lei ou destinação natural, se acha ligada ao uso de outra a que presta utilidade´. Este sentimento é, por extensão, o que define, de certa forma, o grau de utilidade, de domínio e uso que cada indivíduo ou grupo social, assume em relação aos diversos componentes do ecossistema.Com relação ao Meio Ambiente a ´Pertença´ nos retrata as melhores e, por oposto, as piores formas de utilização de nossos espaços ambientais e a maneira como relacionamos e usufruímos de suas riquezas e de seus diversos componentes, frente às possibilidades de exaustão ou desequilíbrio entre os mesmos.A visão econômica de nossos lugares surge quanto o sentimento de ´Pertença´ permite vislumbrar o ciclo de suas riquezas naturais, da vida que os circunda e da capacidade em potencial de renovação e, a partir daí, delineia-se as melhores formas de uso racional desses mesmos lugares na geração de negócios, serviços e bens.Sem dúvida que a maior fonte de manutenção e revitalização dos nossos melhores lugares é a água. Recurso natural com propriedade de auto-renovação graças aos processos físicos de seu ciclo hidrológico. Ninguém pode negar os efeitos positivos na economia em decorrência da presença da água na agropecuária, na geração de energia elétrica e mesmo na indústria de alimentos e da transformação de matéria prima em bens duráveis.Contudo, a controvérsia deste conhecimento repousa no fato de não se agregar à água outros valores, não permitindo, desta feita, que a mesma venha apresentar-se como fator de desenvolvimento integrado para as microrregiões do Sul de Minas e, também, como elemento fundamental na tomada de decisões relativas à melhor qualidade de vida de seus habitantes. Para sanar algumas lacunas dos grandes projetos de desenvolvimento sustentável, é importante que se tenha sempre o elemento água como quesito nos planejamentos de implementação de novos negócios de rentabilidade da iniciativa privada e arrecadações para os cofres públicos.Esse é o caso específico das fontes de águas minerais existentes, abundantemente, no Sul de Minas Gerais e também em outras regiões do Estado. Não obstante existir legislação específica para as águas minerais, que diferem da legislação dos recursos hídricos em geral, esta água tão enriquecida pelas suas propriedades físico-químicas não merecem gozar de menos valia que as águas que tocam as grandes turbinas geradoras de energia, que possibilitam a indústria fabril ou daquela que chega em nossas casas como fator primordial de vida.É preciso que a sociedade como um todo, perceba que as fontes de águas minerais do nosso Estado podem se transformar nos principais elementos geradores de novos serviços, negócios e empregos caso sejam reconhecidas como capazes de gerar outros sob-produtos tais como: a farmácia de produtos de tratamento de pele ´beauty farm´; os centros de crenoterapia - utilização científica das águas minerais como recurso medicinal preventivo e curativo; a utilização dos parques das águas e matas nativas como local apropriado à extensão dos currículos, atividades escolares e universitárias e até o lado lúdico, cultural e histórico que envolvem as referidas fontes.O que se espera agora, diante da eminente e necessária publicação do novo edital de licitação das fontes de águas minerais do Circuito das Águas de Minas Gerais, é que os termos do novo contrato seja capaz de atrair empresários e investidores sensíveis e conscientes quanto ao elenco de valores que predominam em nossos melhores lugares do Sul de Minas Gerais, onde a água entra mais como um elemento de ´Pertença´, bem utilizável e de elevado teor de auto- reposição, do que puramente utilizá-la como objeto de um extrativismo ilimitado.A água, de forma geral, é uma ´Pertença Benfazeja´, regeneradora de nossos lugares: o homem promove o desmatamento enquanto a água promove o rebroto; o homem polui os mananciais e a natureza promove a autodepuração dos cursos d'água. A água, reciclada pelo ciclo hidrológico, beneficia a vida animal e vegetal e se torna num elemento necessário para quase todas as atividades humanas realizadas sobre a face da terra.As águas minerais, por excelência, devem merecer atenções especiais sobre os aspectos quantitativos e qualitativos, visando, sobretudo, a garantia de seu consumo pelas comunidades privilegiadas pelas fontes e sua melhor e maior utilização como fator gerador de subprodutos, serviços e empregos, numa nova e genuína arquitetura econômica regionalizada. Este novo direcionamento é o que as comunidades do ´Circuito das Águas´ de Minas Gerais esperam alcançar para que haja um verdadeira revitalização urbana ensejada pelo maior uso de sua rede hoteleira e pela diversidade de outros serviços prestados. Para que isto seja viável é imprescindível adoção de controle técnico quanto a exploração e conservação das fontes de água mineral, como também preservação da bacia hidrográfica, o que já vem sendo bem planejado, articulado e discutido por intermédio dos organismos de controle do estado, pelo Comitê da Bacia do Rio Verde e pelas ONGs existentes e atuantes frente a essa questão.O Centro Referencial das Águas (Ceráguas), recém-instalado no prédio do palácio do cassino em Lambari (MG), pretende ser somente mais um ponto de apoio e de referência de todos os esforços que vêm sendo realizados no sentido de preservar e revitalizar todos os recursos hídricos da região do Circuito das Águas e também da cidade de Araxá. A intenção deve ser de modelar e executar, nessa região do estado, uma rede de atividades, estudos e negócios, utilizando como potencial produtivo as fontes de água mineral, assim como também todos os recursos hídricos existentes. Pode-se dizer que, trata-se de um ´consórcio´ integrado por dezoito partícipes, entre eles várias instituições de ensino superior como a UFMG, o Cefet-MG e EFEI, a UFOP e outras que ainda virão a integrar esse projeto de grande impacto social e econômico.Uma universidade aberta das águas, um centro de crenologia, o empreendedorismo praticado por intermédio de micro empresas incubadas, serão capazes de nortear um plano de desenvolvimento sustentável das estâncias hidrominerais. Esses empreendimentos, ensejando políticas de recursos para a criação de uma infra-estrutura regional adequada aos avanços e desafios que certamente surgirão na região.

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